Construindo uma casa - TETO

Assistam o vídeo antes de ler o post. Tudo fará mais sentido. 


Minha relação com a Ong Teto já tem mais de um ano. Não sei se vocês se lembram (quem me acompanha) mas em março do ano passado (tem um post aqui falando sobre isso) participei de um projeto em São Paulo que na época se chamava Um teto para meu País. Foi lá, nesse projeto, que conheci meu atual excelentíssimo namorado. (Então além de tudo, essa é uma história duplamente de amor). Tiveram várias construções depois daquela, mas foi só agora, pouco mais de um ano depois que conseguimos voltar pra SP numa nova construção.

Pra quem não conhece, o o Teto é uma ONG cujo objetivo é ajudar na construção de um novo país e está presente em vários países na América Latina. A primeira fase de implantação do projeto no país tem o objetivo de substituir as moradias de extrema pobreza por casas mais resistentes e que ofereçam uma melhor condição de vida para as comunidades. Para isso, conta com a ajuda dos próprios moradores, da comunidade e de muitos jovens voluntários!

Vale lembrar que o Teto não é uma Ong assistencialista: existe todo um longo processo, mas é impossível progredir se as pessoas não tiverem nem uma casa que possam chamar de lar. O Teto ajuda/orienta as comunidades mais pobres de São Paulo (e agora tá chegando no Rio de Janeiro também!) a se desenvolverem e buscarem melhores condições de vida.

A equipe e a família para qual construímos 
Mas vamos para o prático: Como acontece o Teto?

Um grupo de alunos da UFPR e outras universidades de Curitiba se reuniu e organizou um ônibus para ir pra SP. (Como disse, o Teto por enquanto só acontece em SP). Viajamos na sexta-feira, 12.05 e a noite nos encontramos com os voluntários de outros lugares do país. Lá na escola ponto de encontro, somos divididos em comunidades. Eu fui para a comunidade Tekoa Pyau, e foi lá que eu passei o final de semana de construção. (Meu namorado foi para a Comunidade Pintassilgo).
                                                    Os alunos da UFPR que foram pra SP
Então pegamos um ônibus e vamos para a região da comunidade. Lá, ficamos hospedados numa escola da região. Ali, será nossa casa durante a construção. Conhecemos nossos líderes de escola, intendentes, líderes de equipe e chefes da construção. Essas são pessoas mais experientes que estarão lá ou para deixar a escola em ordem (fazer comida, cuidar da limpeza, horários...), ou para liderar as equipes de cada casa, ou a construção em geral na comunidade.

Ah! Como citei, existe uma equipe para cada casa que será construída. Então, quando chegamos nessa escola, somos divididos novamente, e assim saberemos com quem iremos construir no dia seguinte. Na sexta está todo mundo ansioso e curioso. Afinal, geralmente os universitários voluntários que participam não tem experiência em construir casas de emergência, né?
                                                      O quarto onde ficamos alojados
No sábado, acordamos um pouco antes das 6 hrs, colocamos uma jeans esperta (só pode construir com jeans!), tomamos um café-da-manhã e fomos até a comunidade. Na construção passada, fiquei na equipe de logística, mas nessa fui para uma equipe de construção mesmo! Junto com 6 pessoas e alguns índios da comunidade, construímos uma casa. (:

A Tekoa Pyau é uma comunidade indígena localizada em São Paulo, próximo da Serra da Cantareira e do Pico do Jaraguá. Quem constrói nessa comunidade, adquire um conhecimento totalmente diferente sobre estilo de vida. Primeiro, que toda aquela concepção de índio que ainda temos no nosso imaginário se desfaz.  A gente passa a ter uma noção de realidade nova.

                                                   Os voluntários da Comunidade Tekoa Pyau
Os índios da comunidade Tekoa Pyau "conquistaram" um espaço através da Funai. Entretanto, existe controvérsias sobre o que é considerado pelos órgãos públicos um espaço adequado para sobrevivência. Porque convenhamos, é muito fácil a gente chegar aqui, devolver um pedaço de terra (minúsculo, comparado ao que era deles), mas 'proibir de caçar e plantar' e falar: é isso aí galera, agora vocês tem direitos iguais ao de todo mundo. Direito a pagar pra obter água tratada, pagar para ter luz elétrica, direito a um lugar para construir suas casas.... Mas será que é realmente isso que eles queriam? Será que não seriam mil vezes melhor devolver um espaço mas no qual eles pudessem viver de acordo com sua cultura? caçando, plantando, bebendo água do rio... (de preferência um rio limpo!)?

Tirando a parte política da situação (porque um post é pequeno pra falar sobre isso...) tem a questão cultural. Gente, que cultura mais linda! Sério! A convivência deles é muito comunitária. Lá não existe esse apego material que nós temos: essa é a minha cama, minha casa, minhas coisas... Lá, eles convivem muito bem sabendo que tudo é de todos. Ou seja, não tem diferença social. Tanto que, por exemplo, se uma família de 3 pessoas mora numa casa grande e outra de 6 numa casa pequena, eles trocam de casa, para que todos possam viver bem. (: (Lindo né?) E quando a equipe do Teto chegou com a proposta de aderir a comunidade no programa e construirmos juntos (o Teto e a Tekoa) algumas casas, os líderes da comunidade disseram que só seria permitido que entrássemos na comunidade com uma condição: ou construiríamos uma casa para todas as famílias, ou nada feito. Porque eles não queriam as nossas desigualdades lá dentro.  :')  (O Teto aceitou, e de pouco em pouco, todas as casas da comunidade serão construídas). 







Existe também um respeito pela natureza admirável. Quando estávamos escavando para colocar o piloti de fundação, apareceram muitas raízes de árvores que já morreram ali, e quando o índio da nossa casa viu pediu que respeitássemos as árvores. Depois, quando eu e um colega estávamos escavando ooooutro buraco para fundação aconteceu algo que deu muito medo: a hora que lancei a alavanca ele desceu muito mais do que deveria. O lugar onde estávamos cavando por algum motivo estava oco. Quando tirei novamente tive uma visão das mais assustadoras que já tive até hoje relacionada a insetos: um formigueiro muito mais muito gigante e subterrâneo. (Juro pra vocês que nesse momento me vi sendo hospitalizada por picada de inseto - dramas de uma alérgica a insetos). E era uma formiga muito esquisita, parecia aranha, era grande e marrom. #medoeterno Quando os índios por perto viram meu pequeno escândalo de menina urbana, pediram que tivéssemos respeito com as formigas. E claro, eles tinham razão: os intrusos éramos nós, não elas, que estavam bem de boa no subterrâneo né?

O triste foi que devido a chuva (choveu o sábado inteirinho lá em SP) não conseguimos terminar a casa no final de semana. Voluntários disponíveis voltaram durante a semana para finalizar (ficou faltando o telhado e as janelas e portas).

Se já não bastasse o quão rico saímos desse final de semana de construção, nossa família indígena ainda nos presenteou! As meninas da equipe ganharam brincos, os meninos ganharam uma zarabatana. s2

Eu e Joyce 

                                                       Eu e Djatchuca (com certeza escrevi errado o nome dela...)
A indiazinha mais querida do mundo que tentou entre gargalhadas nos ensinar algumas palavras em guarani... (sem êxito!) E que no final me entregou um papelzinho com o meu apelido (Thu) em guarani: Ara.


Depois disso só tenho mais uma coisinha pra dizer: O TETO É MUITO AMOR!





6 comentários:

  1. Trabalho mais lindo Thu *-*
    Nada melhor que o prazer de ajudar as pessoas né!? Faz bem pro mundo, pra gente, pra alma ♥

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  2. Lindo o post thu!! Além de você estar fazendo o bem,você conheceu uma nova cultura e teve novas experiências. E ajudando dessa forma as pessoas a gente vê como é errado a gente ficar reclamando das coisas,enquanto outros com menos que nós são felizes com o que tem.

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  3. Linda atitude, amor! É de pessoas como vc que nosso país precisa. Gente do bem, que acredita em mudanças e que tem força de vontade! Gente que tem muito amor pra dar! ;)

    A Thu e o Teto são muito amor!!!

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  4. Lindo esse trabalho! Espero um dia poder fazer isso também! Admiro muito sua força de vontade e das outras pessoas que também ajudam o Teto! :D
    E acho linda também essa cultura dos índios, de não serem individualistas, de dividirem suas coisas, de como você citou no post, de trocarem de casa para viverem melhor!
    Deve ter dado uma boa sensação enorme de dever cumprido, de satisfação, né?

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  5. Que lindo!!! Fiquei muito feliz de conhecer esse projeto, gostaria que tivesse algo assim aqui no Rio. Vendo seu post me dá uma vontade enorme de participar, porém eu não sei se eu tenho condições físicas de fazer esse trabalho. Você é sedentária, ou faz atividades físicas? Olha que pergunta indiscreta a minha, mas é que fiquei pensando que eu não teria coração pra tal aventura, haha.

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  6. Adorei o projeto, é ótima a sensação de ver a gratidão das pessoas, saber que está mudando a vida de alguém!

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